Então é isso. Não tive coragem de pedir demissão para cruzar o sudeste asiático com o Aurélio, e por isso meu período de pedal foi mais curto que a vontade. Coragem é foda. Toda vez que penso nisso, tenho vontade de várias coisas diferentes, como pedir demissão por e-mail e também de voltar logo pra SP e fazer tudo aquilo que venho fazendo, afinal a vida tá boa sim, e time que está ganhando não se mexe.
Enfim, sou grata em ter conseguido tirar carnaval + 30 dias de ferias para poder experimentar um pouco, o que para muitos é uma verdadeira loucura: uma grande viagem de bicicleta (pelo menos para mim). Muito mais do que saber por onde pedalar, para que lado temos que ir ou onde vamos parar, esta viagem me trouxe a tona o verdadeiro significado do que é ter um irmão.
O Aurélio sempre foi uma fonte constante de inspiração para mim e minha gratidão a ele depois dessa, aumentou exponencialmente. Às vezes ele erra sim (como saber se vai chover, por exemplo), mas independente de qualquer coisa, ele me traz uma segurança e tranquilidade danada. Sabe aquela musica “tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”? Bom, foi mais ou menos este o ritmo da minha viagem.
Quando decidi viajar pela Tailândia com o Aurélio, minha expectativa sempre foi de voltar alguém melhor do que fui. Queria algo para mim mesmo, pode até parecer meio egoísta, mas minha procura nem era por paisagens ou ganhos culturais, apesar de tudo isso ser bem atrativo, mas sim em autoconhecimento. Estava em busca de achar a resposta para tudo aquilo que não tinha e ainda voltar com as próximas perguntas prontas. Objetivo arrojado, eu sempre soube.
Preciso dizer que muito mais do que meus anseios e expectativas, foi uma viagem que me ensinou muito sobre equilíbrio. Sobre ter a humildade e tolerância para aceitar o desconhecido. Sobre estar sempre focada, muito focada, e paradoxalmente poder manter a visão ampla, quase que infinita. Precisa-se estar em movimento e assim oxigenar tudo aquilo que é necessário: da cabeça a panturrilha, e em especial o coração.
Aprendi tirar proveito da amplitude do significado de cada situação, tenha sido ela adversa ou favorável. E o melhor, posso dizer que segui livre de tudo e ainda assim consegui manter firmemente minha perspectiva da realidade do mundo. Mundo esse que se torna mais intrigante e especial a cada pedalada. Talvez meu mundo tenha novas lentes agora, talvez sem miopia… talvez também seja minha euforia em cumprir a viagem até o fim.
Meu desejo de final de viagem é que o Aurélio consiga inspirar muito mais pessoas em seu caminho e que nunca perca o equilíbrio e a coragem.
Chegou a hora de ir para casa. Sinto que sou melhor hoje do que quando cheguei.